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Empreendedorismo de bairro: comerciantes investem em vendas personalizadas e lojas sofisticadas

A ideia é fazer com que o cliente se sinta em uma loja de grife, mas sem sair do bairro onde mora

A empresária Joyce Rocha começou a vida profissional como sacoleira. Eram horas e mais horas de ônibus de Belo Horizonte até São Paulo. “Comecei como sacoleira, ia para São Paulo três vezes na semana porque não tinha capital de giro. Eu pegava os ônibus de sacoleiro no (edifício) JK ou na Praça da Cemig, domingo, 18h e chegava 1h. Comprava 1h, saia de lá na segunda-feira meio dia, voltava 21h e chegava em casa”, lembra.

“Às vezes, eu atendia meu cliente à noite, depois vendia de manhã e voltava na terça. Fazia isso até três vezes na semana. Ou seja, na segunda-feira eu ia com R$ 1,5 mil, na terça eu voltava com R$ 2,5 mil – e fiz isso por um longo período. Falo que toda empresa sempre começou pequena”, afirma.

Essa é parte da história da empresária Joyce Rocha. Ela começou em uma lojinha de 23 metros quadrados no Padre Eustáquio, na região Noroeste de BH, e hoje é dona de lojas com mais de quatrocentos metros quadrados em diferentes pontos da capital mineira.

O negócio deu tão certo que virou franquia. São duas mega lojas próprias e outras 12 franquias espalhadas por Minas Gerais.

O negócio deu tão certo que virou franquia. São duas mega lojas próprias e outras 12 franquias espalhadas por Minas Gerais.

A empreendedora utilizou uma das letras do nome para criar uma das marcas de moda feminina mais conhecidas de BH: a “Y”.

Além das lojas físicas, a “Y” tem mais de 1 milhão de seguidores nas redes sociais.

Apesar de ter ficado grande, ela não quis ir pra shopping ou abrir lojas em áreas caras de BH. A empreendedora não abre mão das lojas de bairro e da proximidade com as clientes.

“As pessoas vão trabalhar na área central e depois vem para o bairro, para a casa, visitar parentes. Tanto é que essa loja do Castelo é a loja com nosso maior faturamento, que vende muito mais do que a loja do Barro Preto. Eu acho que os bairros estão crescendo muito, as comunidades dos bairros”, destaca Joyce.

Utilizando a internet, a empresária fez a loja de bairro expandir as fronteiras de BH.

No mundo online, são mais de 500 vendas por dia. Mais de 80% delas foram para fora de BH. Desse porcentual, 30% são compras feitas a partir de São Paulo, o estado onde a empresária começou buscando roupas de ônibus

Uma pesquisa recente do Sebrae aponta que o Brasil registrou a maior taxa de empreendedorismo dos últimos anos. De acordo com o Monitor Global de Empreendedorismo (Global Entrepreneurship Monitor – GEM 2024), considerada a maior pesquisa de empreendedorismo do mundo e feita, no Brasil, pelo Sebrae em parceria com a Associação Nacional de Estudos e Pesquisas em Empreendedorismo (Anegepe), o país possui 47 milhões de brasileiros envolvidos com algum tipo de negócio, incluindo os formais e informais.

A gerente da unidade de indústria, comércio e serviços do Sebrae, Márcia Machado, destaca a evolução do comércio de bairro.

“O improviso está perdendo espaço. Não é porque a loja é de bairro que ela vai deixar de ter sofisticação, qualidade, um ambiente adequado, personificação para o cliente. Isso caiu. As lojas mais sofisticadas não tem que estar em bairros da zona Sul ou em grandes shoppings, na verdade ele precisa estar onde o cliente se sente confortável e onde o cliente consegue chegar com mais facilidade”, afirma.

Márcia Machado fala ainda que a tendência é vista em outros países. “Lojas extremamente confortáveis, extremamente ambientadas para o consumidor que ela atende”, completa.

O comércio de bairro também está inserido em uma tendência internacional: a descentralização. É o destaca o presidente da CDL e do Sebrae Minas, Marcelo de Souza e Silva.

“Essa é uma realidade. A gente vê ao longo dos anos, cerca de 20, 25 anos, essa evolução no comércio, no serviço descentralizado os empreendedores percebendo isso, que atraiam e fidelizavam seus clientes com esses diferenciais, então colocaram isso, trouxeram para essa modalidade agora todas essas ferramentas. E é muito importante, não interessa onde o seu negócio esteja, ele ser um negócio em que você tem essa sustentabilidade com essa modernidade com certeza vai ser sucesso”, pontua.

Souza e Silva afirma ainda que é uma realidade em todos os cerca de 33 centros comerciais mapeados em Belo Horizonte, que são descentralizados. “As pessoas, os empreendedores, já perceberam isso, seus colaboradores também, e principalmente os consumidores. Que está ali perto, que tem uma característica, um charme totalmente diferenciado. Estão conseguindo conquistar esse comércio próximo, de bairro, realmente valorizando porque realmente tem que ser valorizado algo que o próprio empreendedor valorizou”, finaliza.

Por causa do trânsito, grandes cidades do mundo têm investido em infraestrutura, atividades de lazer e eventos culturais fora dos grandes centros. A ideia é que as pessoas consigam trabalhar, comprar, viver perto de casa, utilizando cada vez menos os carros. Talvez seja esse o futuro, morar nas grandes cidades, utilizar as novas tecnologias, mas tentar cultivar bons hábitos do interior.

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